Conto (ou quase isso): Epígrafe
- werner maria
- 17 de jun.
- 1 min de leitura
Atualizado: 18 de jun.
Encarava o amanhecer como se encaram os sonhos confrontantes: rubéolo, como uma dádiva esquecida. Encarava o amanhecer escarrando os vestígios de nova noite vencida - conferi, sem cigarros. Desci pelas escadas de incêndio o mais rápido que me permitiam as pernas saltimbancas dado o medo de que rápido furor, de que epifânico delírio me fizesse optar pelo caminho mais rápido à calçada, pelo atalho gravitacional; medo que sempre assombra quando o sol me agoura vida.
- Como você entrou aqui de novo?
Vesti meu único par de óculos escuros, meu casaco jeans surrado amarrado à cintura e decidi citar quintana dad0 0 vazio que o não tragar me trás. Suspeitava, como sempre suspeitei, semicerrado de todos os que por mim passavam. Abano breve para os que como eu ainda pela manhã vestem suas roupas de beber, desdém escarnicioso aos que têm do dia outra valia. Descalço como faço o mundo.
Nunca encontrei lições morais nas minhas covardias, nunca mesmo. Jamais pretendi-me melhor após uma boa ação, mesmo num cigarro oferecido sem sorriso em troca. Nunca encontrei lições, talvez por isso minhas palavras mais sentimentais caibam num conto sem profundidade maior que poucas linhas: me interdito sempre pelo medo de que mude.
Cheguei em casa, lavei o rosto, pelado encarei páginas e páginas e mais páginas em branco a tarde toda, sem o mínimo vestígio de transe ou quimera que o valha. Agora, novamente a lua: me pergunto se o caminho mais rápido, se o atalho à calçada não seria um garantido escudo à falta de talento; talvez a escada de incêndio seja o eterno ato final da minha tragédia.


Comentários